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Pp Caroline Amaral dos Santos

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Estresse


Além de irritação, ansiedade e depressão, o estresse do pré-vestibular também causa distúrbios físicos. Podem ser dores no estômago, menstruação desregulada, vontade de comer mais do que o normal, aumento das espinhas e queda de cabelo.

Natália Sanches, 18, que presta artes cênicas na USP, na Unicamp e na Unesp, tem vontade de comer muitos doces nos dias que antecedem as provas. "Eu ataco mesmo. É uma fase muito tensa para me privar de algo." Além disso, a estudante afirma que fica com vontade de urinar nos minutos antes de começar a fazer os testes. "Percebo que é uma reação nervosa. Tenho que sair logo no início da prova para ir ao banheiro", diz.

O gastroenterologista Jaime Natan Eisig diz que também pode acontecer de o estudante ter diarréia, prisão de ventre e dores de estômago por causa da tensão. "Mecanismos do sistema nervoso central são ligados a esses órgãos. O estresse aumenta a sensibilidade e faz com que o organismo reaja de várias formas", explica.

Candidata a uma vaga de direito, Aline Ribeiro da Silva, 19, teve um ataque de tremedeira logo no início da prova da primeira fase da Fuvest. "Fiquei muito nervosa nos primeiros minutos", lembra.

Segundo o endocrinologista Antonio Chacra, o estresse faz a pessoa queimar mais glicose e, por isso, vem a necessidade de comer doces. "Às vezes, a pessoa pode transpirar mais nas mãos, o coração pode bater um pouco acelerado e até aparecer um tremor nas mãos", afirma.

Nas mulheres, outro sintoma comum do estresse é a menstruação desregulada -em algumas, o fluxo aumenta, em outras, diminui. 

"Acontece com as estudantes o mesmo que com bailarinas e atletas. Como está ocorrendo um desgaste físico muito grande, o corpo entende que não é hora de procriar e, por isso, inibe a ovulação, que é o que garante um ciclo menstrual regulado", explica a ginecologista da Unifesp Carolina Carvalho.

O aumento das espinhas no rosto é outro distúrbio que atinge estudantes na época do vestibular. "Alguns dos jovens que ligam para o CVV reclamam disso", conta a voluntária Elaine. O problema, aqui, também é a influência do estresse nos hormônios, que pioram o quadro em pessoas que têm tendência a ter acne, de acordo com o dermatologista Eugênio Pimentel. "Também pode haver queda de cabelo, caspa e coceiras pelo corpo."

A estudante Natália conta que teve até de procurar uma médica para tomar remédios homeopáticos e tentar diminuir a ansiedade. O tratamento ajuda, mas o que os médicos entrevistados pela Folha recomendam mesmo é a prática de exercícios, uma boa alimentação e boas noites de sono para diminuir o estresse.

Até CVV registra mais ligações na época de vestibular

Como saber se escolhi o curso certo? Se eu não passar no vestibular, o que vai acontecer? Como as pessoas vão receber isso? O que fazer para me sentir mais seguro? Esses são alguns dos questionamentos que os voluntários do CVV (Centro de Valorização da Vida) ouvem de vestibulandos todos os dias.

O serviço, que teve cerca de 250 mil contatos em 2005, tem um aumento de ligações de jovens todos os anos nos meses de julho e de dezembro por causa do vestibular.

"Sinto que eles ligam porque aqui podem mostrar fragilidade, o que é muito difícil deixar vir à tona com os pais, amigos e familiares", afirma a porta-voz do CVV Elaine (ela não revela o sobrenome porque o serviço mantém a identidade dos voluntários sob sigilo). As pessoas que telefonam, mandam e-mails ou comparecem às unidades do CVV também não precisam se identificar.

Durante os atendimentos, quase a totalidade deles feitos por telefone, o jovem conta quais são os motivos de sua angústia, muitos deles ligados ao medo do vestibular, e o voluntário, do outro lado da linha, procura ajudá-lo a ter confiança na própria capacidade. "Procuramos dar respostas compreensivas para que a pessoa se sinta melhor e, ao mesmo tempo, respeitada."

No Cursinho da Poli, que mantém um serviço de psicologia à disposição dos alunos, ocorre o mesmo que no CVV. O número de atendimentos do serviço sobe 30% no segundo semestre do ano. Passa de 90 por mês para 120.

Além dos atendimentos ligados à orientação profissional e à organização de estudos, os psicólogos também atendem a adolescentes que querem, apenas, desabafar sobre questões pessoais.

As preocupações são parecidas com as dos jovens que ligam para o CVV. "Em geral, eles falam sobre como estão tensos em relação às provas, dizem que se sentem muito cobrados e ficam se perguntando o que farão no ano seguinte se não passarem no vestibular", afirma André Meller, coordenador do serviço de psicologia.

Para ele, aliado à tensão há o esgotamento físico que atinge os estudantes no final do ano. "Alguns começam a ter problemas derivados do estresse de meses de estudo. Têm gastrite, dificuldade para dormir."

Motivo de tanta tensão é importância dada ao momento pela sociedade, diz especialista

Com tanto conteúdo para estudar e sob grande pressão, é normal que o vestibulando fique estressado, segundo Marilda Lipp, do Centro Psicológico de Controle do Estresse. O motivo, de acordo com a psicóloga, é que a situação do vestibular é colocada "como muito grave" pela sociedade.

"O adolescente põe uma importância muito grande nisso e o medo do fracasso leva a se estressar. Enquanto dermos esta conotação para este momento da vida, eles vão continuar a se sentir ansiosos", diz Lipp.

Por causa do estresse, é comum que o estudante fique irritado, nervoso e tenha dificuldade de concentração. Em casos mais graves, o adolescente pode apresentar depressão e ansiedade excessiva.

Luciana Barbosa, 18, que presta jornalismo na USP, na Unesp e na Cásper Líbero, viu isso acontecer no pior momento possível. "Tive uma crise de choro no meio da prova no ano passado", lembra ela, que agora diz ter conseguido se manter mais calma durante os exames.

André Meller, do serviço de psicologia do Cursinho da Poli, diz que casos como este aparecem com freqüência. "Tentamos mostrar para eles o quanto esta situação acontece com todos os colegas, porque, às vezes, eles acham que estão passando por toda essa tensão sozinhos."

Para se dedicar ao cursinho, Luciana parou até de praticar handebol, seu esporte predileto. "Não ia dar tempo de fazer tudo junto", afirma.

De acordo com Lipp, a atitude, comum entre pré-vestibulandos, é equivocada. A psicóloga afirma que a melhor forma de se livrar do estresse é passar pelo menos uma hora do dia sem pensar nos estudos, e a prática de exercícios físicos é um bom momento para isso. "Tem que se desligar de tudo por um tempo", diz.

FERNANDA NOGUEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA [Folha de S. Paulo] 

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